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Da última vez...
Há alguns meses, escrevi o post Crypto: última chamada para vender. Em algo eu estava obviamente errado, não era a última chamada para vender. O Bitcoin estava em 35,000 dólares, subindo 25% desde então. O comportamento é parecido para outras coins. E apesar de não ter o mesmo nível de convicção que eu tinha de dar um call da iminência da queda, eu tenho alto nível de convicção que em 12 a 18 meses vai estar no mesmo preço ou algo parecido com isso, simplesmente pela completa falta de bull case (tese otimista) e de já ser enorme (Bitcoin tem 820B de dólares de market cap!).
INB4: não, não estou vendido em crypto.
Objetivo dos posts:
O objetivo dessa série de posts é conscientizar para os riscos para isso que certamente É um Ponzi Scheme. Eu fico perplexo com o tanto de propaganda que existe (inclusive em sites pornôs!) de corretoras, fora o tanto de propaganda endereçando o cidadão comum deste que é algo muito especulativo.
Sendo um membro frequente do sub, me deixa perplexo o tanto de pessoas completamente iniciantes que estão especulando em crypto! São pessoas com pouca educação financeira, que estavam até ontem investindo no CDB do Banco do Brasil que agora estão cheios de Bitcoin, Ether e Sol. Isso é um esquema de transferência de riqueza dos pobres para os ricos. O objetivo desse post é conscientizar meus concidadãos a manterem seu rico dinheirinho em sua posse.
Pergunte-se: por que eles gastam tanto com propaganda se isso é tão bom? Não seria melhor apenas eles comprarem Bitcoin (e outras cryptos) ao invés de fazer propaganda para que você compre? Nós zoamos tanto o PicPay por aqui por tentar nos vender empréstimos que teoricamente são bons, que temos que nos perguntar: por que a Hashdex, QR, Empiricus, Mercado Bitcoin, Crypto.com, Binance e outras gastam tanto dinheiro com propaganda para te convencer de comprar crypto se eles acham que crypto é tão bom? Não seria melhor apenas comprar eles mesmos?
Por que patrocinar o Corinthians ao invés de comprar a crypto do momento?
Regra número um dos investimentos: nunca perca dinheiro. Regra número dois: nunca se esqueça da regra número um. - Warren Buffett
É preciso muita atenção na maneira com que se investe o patrimônio pessoal! E apesar que muitas pessoas digam que por isso você deve ir pequeno (sei lá, 5% do portifólio), essa é apenas uma maneira preguiçosa de lidar com FOMO. É claro, eu prefiro que você coloque 5% em crypto do que você coloque 50% do seu portifólio em crypto. Ainda assim, a maneira com que isso é vendido como um esquema de ficar rico rápido é assustadora!
Ao longo dos posts pretendo endereçar vários posts.
INB4: Mas o mercado financeiro, Wall Street e a Faria Lima não fazem a mesma coisa? Em boa parte sim, existe uma razão porque os clientes não tem iates (https://www.amazon.com.br/Where-Are-Customers-Yachts-Street/dp/0471770892), apenas os banqueiros. Dito isso, Wall Street já foi muito pior. Há 120 anos atrás não havia regulação alguma e era um velho-oeste assim como o mercado crypto, sequer havia o Federal Reserve (Banco Central dos EUA) ou a Security and Exchanges Comission (CVM dos EUA). Mas hoje eistem limitações na maneira com que você faz propaganda, safe harbors e medidas para se limitar os exageros. Mesma coisa no Brasil: a ANBIMA, CVM e BACEN limitam bastante o quanto você tem de propaganda. Vocês já viram a B3 te perseguindo para comprar ações? E apesar de mais recentemente termos fenômenos que fazem isso, como a própria Empiricus, as próprias empresas (talvez com a excessão do Nubank?) não ficam gritando por tentando te convencer a comprar a ação delas. Se o André Esteves achar a ação do BPAC11 um super investimento, provavelmente ele irá realizar uma recompra ou ele mesmo comprar na física ao invés de criar uma conferência para gritar ao mundo quão maravilhosa é a ação do BTG.
O que há de novo em crypto?
Quando alguém te apresenta uma tecnologia, vale se perguntar o que há de novo exatamente. Em sua palestra Cryptocurrencies no curso Computer Security da Universidade da Califórnia em Berkley, o professor Nicholas Weiver nos lembra que blockchain é uma estrutura de dados bem antiga, de mais de 50 anos.
Explicação para nerds: Para quem é familiar com estrutura de dados e algoritmos, blockchain é basicamente uma linked-list que é imutável, pois cada elemento tem o hash do elemento anterior.
Blockchains é uma estrutura de dados extremamente antiga, como pode ser visto quando se joga hash list e blockchain no Google Books Ngram search:
As menções a blockchains em livros antecedem 2008 em muitas décadas
De fato, uma aplicação bem legal de blockchains é o Git, criado pelo Linus Torvalds após decidir que ele seria capaz de criar algo melhor que tudo que existia em termos de versionamento em 15 dias (e ter conseguido). Sempre que alguém manda uma alteração para o Linus do Linux, ele queria ter a garantia que apenas a pessoa mudou o que ela diz que mudou (imagine o trabalho que daria ter que revisar tudo do código a cada mudança) e o Git garante isso: a pessoa só pode mudar o que ela disse que mudou, para trás tudo é imutável.
Certamente o Git é bem legal, mas seria blockchain como estrutura de dados algo revolucionário? Seria o Git revolucionário? Você já viu alguém dizer que estruturas de dados como Listas Ligadas ou que Grafos Acíclicos Orientados são revolucionários? Estruturas de dados são simplesmente coisas que cientistas da computação usam e se bem utilizadas, o usuário final jamais deveria saber nada a seu respeito porque foi abstraído. A Apple se tornou a maior empresa do mundo porque eles abstraem tudo de seus clientes, não porque eles os expõem a algum tema importante de ciência da computação.
Sugem as blockchains decentralizadas
Após criar o Git, o Linus Torvalds até hoje versiona o Linux da mesma forma: em um computador sem conexão a internet na casa dele. Se você quiser saber qual é a versão atual do Linux, você precisa confiar no Linus para enviar a versão correta para você. Isso não é um problema, porque a maioria das pessoas confiam no Linus para ser o Ditador Benevolente Vitalício para o Linux. E se você discordar, você pode apenar fazer um fork) e criar a sua própria versão do Linux.
Mas e se houver uma situação em que você não quer confiar em ninguém? É possível implementar uma base de dados onde nenhuma autoridade central controla o que entra nela?
Em seu paper Bitcoin: A Peer-to-Peer Electronic Cash System, Satoshi Nakamoto propõe usar Blockchains distribuídas para criar uma moeda digital que não tem nenhuma autoridade central. Nakamoto comenta na introdução (aqui traduzido):
Resumo: Uma versão puramente pessoa para pessoa de um dinheiro eletrônico permitiria que pagamentos online fossem enviados diretamente de uma parte a outra sem passar por uma instituição financeira. As assinaturas digitais fornecem parte da solução, mas os principais benefícios são perdidos se um terceiro confiável ainda for necessário para evitar gastos duplos. Propomos uma solução para o problema do gasto duplo usando uma rede pessoa para pessoa. A rede registra as transações com hashing em uma cadeia contínua de prova de trabalho baseada em hash, formando um registro que não pode ser alterado sem refazer a prova de trabalho. A cadeia mais longa não serve apenas como prova da sequência de eventos testemunhados, mas prova de que ela veio do maior pool de poder da CPU. Contanto que a maior parte do poder da CPU seja controlada por nós que não estão cooperando para atacar a rede, eles gerarão a cadeia mais longa e ultrapassarão os invasores. O a própria rede requer uma estrutura mínima. As mensagens são transmitidas com base no melhor esforço, e os nós podem sair e se juntar à rede à vontade, aceitando a cadeia de prova de trabalho mais longa como prova do que aconteceu enquanto eles estavam fora.
É uma ideia bem legal e o paper merece leitura, particularmente dada a sua importância cultural! E eu não sou uma pessoa que acha que Bitcoin não deveria existir. Existem aplicações para um dinheiro que não exige autoridade central: você pode enviar dinheiro para alguém um país que sofre opressão, para fugir de algum lugar (é melhor que guardar ouro ou dólares com você enquanto atravessa o mediterrâneo num barco) ou simplesmente para comprar algo controverso. Obviamente, é ótimo para criminosos, mas existem inúmeras coisas que são boas para criminosos e que não sou contra a elas por conta disso (estradas, armas, internet...).
O importante aqui é a palavra trust (confiança). O que há de novo aqui é a ideia que você não precisa confiar em ninguém, apenas que as pessoas como 50% da rede não são mal-intencionadas.
Nakamoto menciona a palavra trust 17 vezes no paper original. Por outro lado, ele não menciona store of value (reserva de valor), não menciona fiduciary (moedas fiduciárias), menciona inflação apenas uma vez e ouro duas vezes.
A maneira que eu gosto de pensar é que blockchains decentralizadas permitem os usuários realizem transações trustless (sem confiança): você não precisa confiar na Stone, não precisa confiar na Visa, não precisa confiar no governo Brasileiro, não precisa confiar no Itaú. Sempre que você pensar: "puxa, gostaria que eu pudesse fazer isso que estou fazendo de maneira trustless", você vai estar diante de uma aplicação de uma blockchain decentralizada.
Aplicações de trustless transactions
Quantas vezes eu já me deparei com algo que eu pensei: puxa eu gostaria que isso que eu estou fazendo pudesse ser feito de maneira trustless? Nenhuma. Eu nunca passei por uma situação dessas.
- Eu gostaria que meus pokemóns no Pokémon GO estivessem numa base de dados aberta trustless que a Niantic não tem acesso? Não. Eu confio na Niantic (pelo menos, eu confio o suficiente para ela guardar meus pokemóns) Referência a Axie Infinity
- Eu gostaria que eu pudesse guardar minhas fotos de maneira sem precisar confiar na plataforma? Não, eu confio no Google/Apple/Dropbox. Referência a Filecoin
- Eu gostaria tomar um empréstimo no qual eu preciso deixar mais dinheiro que estou emprestando como garantia por que a pessoa não confia em mim? Não, eu prefiro alguém que confie em mim como o Nubank ou o Itáu e que não exija que eu tenha dinheiro pra me emprestar dinheiro. Referência às 500 plataformas DeFi cujo crédito é apenas para quem já tem tokens e provavelmente quer se alavancar.
- Eu gostaria que toda vez que eu fosse comprar uma Ruffles eu não precisasse confiar na Mastercard, na Cielo ou no Itaú? Não, eu confio neles, ainda mais para uma Ruffles! Referência a Bitcoin, Lightning Network e as variações como Litecoin
A verdade é que pra tudo que consigo pensar eu estou disposto a confiar em alguém! Confiar é algo fundamental da vida em civilização e foi como chegamos até aqui desde a Savana africana.
Pior, são as coisas que não tem nenhum componente trustless e mesmo assim são crypto!
- Qual a diferença entre Audius e o Soundcloud? O que exatamente é atingido aqui que não se atingiria confiando que o SoundCloud iria pagar os royalties?
- O que exatamente um DAO como o ConstitutionDAO tinha de trustless? As pessoas tinham que confiar nos fundadores do projeto o tempo todo, inclusive que quem quer que estivesse em posse da constituição fosse mantê-la. Você poderia coordenar de maneira igual (ou até melhor, dado o amparo jurídico) com uma fundação ou uma empresa! O ConstitutionDAO demandava confiança do início ao fim.
Mesmo se você quiser criar um dinheiro privado para seu projeto, talvez como forma de especulação ou não, você pode fazer isso com as pessoas confiando em você!
- Robux do Roblox
- Milhas de companhias aéreas
- Dinheiro da Disney
- Créditos de Starbucks
Mesmo na discussão de ownership, a bolsa de valores resolve esse problema. Se você quer me dar um pedaço da sua empresa se eu entrar cedo nela, não preciso de uma blockchain decentralizada, eu vou precisar confiar em você e na sua empresa de qualquer forma!
Mesmo os argumentos de web3, que as pessoas deveriam ter um pedaço do upside daquilo que elas criar e ter voz, podem ser atingidos sem blockchains: O Elon Musk queria ser dono do Twitter e ele foi lá e comprou 9.2%! O Nubank deu ação para os clientes. O C6 deu ações para a Tim trazer clientes. Não há nada de novo aqui.
Excluindo a questão de que não há grandes razões para desconfiar de contrapartes centrais para a maioria das coisas, você percebe o principal problema de todo o setor crypto: a invenção do Satoshi Nakamoto é perfeita! Talvez você consiga pensar em algumas outras aplicações para blockchains decentralizadas (DNS, por exemplo), mas mesmo assim são limitadas e pouco importantes no grande esquema das coisas, na minha opinião.
Claro, isso é um problema, porque as corretoras e os capitalistas de risco que estão atrás de crypto vão querer criar muitas coisas além de apenas o Bitcoin (e talvez o Ether).
Peguemos a Solana. Que diabos é isso? Eles dizem abertamente que eles abrem mão de descentralização e segurança em prol de escalabilidade (no crypto trillema). Obviamente, a Solana é inútil, porque se eu estiver disposto a ter um sistema menos descentralizado e seguro (portanto eu preciso confiar mais nos validadores e na Solana Foundation), por que eu não simplesmente faria algo que eu confiasse completamente (usando o sistema jurídico, por exemplo)? Uma blockchain que não é trustless é como uma ave que não voa.
A maioria dessas coisas são criadas para ter um token para especular. Não há nada de material aqui. Se a Sky Mavis quisesse criar o modelo Jogue para Ganhar (Play to Earn) deles sem blockchain, seria plenamente normal! Qual o valor dos monstrinhos ou do token AXS sumisse do mapa amanhã? Muito pouco, na realidade.
Essas coisas são criadas para enriquecer os fundadores e te vender uma ideia de que existe alguma coisa de revolucionário aqui, não há. Você não precisa de tokens para coordenar as pessoas. A Wikipédia precisou de um token especulativo para poder coordenar as milhares de pessoas que fazem o site?
Se existe tão pouco em crypto, por que tanta gente inteligente vai atrás?
Essa é uma pergunta boa. Gente como o Jack Dorsey (Square), Mark Zuckerberg (Facebook), Peter Thiel (PayPal) e Tim Cook (Apple) adoram crypto. Uma abordagem que eu vejo muita gente adotar é: se eles que são mais inteligentes que eu estão dentro, por que eu não estou?
Não estou dizendo que esse é o caso pra essas pessoas, mas eu acredito que a parada virou tão grande, que você é tirado de idiota se chama de crypto de bolha, especulação sem fundamento, etc. As pessoas (sérias) tiram o Warren Buffett (sim, o maior investidor de todos os tempos) de idiota por não gostar de crypto, imagine se você não for o Warren Buffett. Obviamente, quando o último pessimista desiste e é que as bolhas estouram.
E o governo?
O pessoal de crypto, principalmente de Bitcoin, vão te dizer que existem enormes razões para não se confiar no governo. Na próxima vez vamos discutir isso e o papel de crypto versus moedas fiduciárias.
Conclusão
Aprendemos que blockchain como estrutura de dados é algo que tem meio século, que a inovação do Nakamoto foi criar uma blockchain descentralizada para transferir dinheiro e resolver o problema do double count e que o conceito fundamental de crypto é você ter uma estrutura de consenso descentralizado no qual você não precisa confiar em nenhuma ninguém. Apesar do interesse intelectual, concluímos que para o dia a dia é plenamente normal confiar nos outros e em contrapartes centrais e que as aplicações de uma moeda digital como a do Nakamoto estão limitadas a situações extremas, como por exemplo, resistir a censura. Também concluímos que praticamente tudo em crypto hoje em dia não faz o menor sentido, pois é ok confiar numa contraparte central nesse caso ou simplesmente porque o token é algo acessório para especular ao redor do pedaço de software ou pior, não faz sentido porque você está literalmente confiando numa contraparte central, como no caso do Axie Infinity ou Solana.
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